domingo, 6 de março de 2011

Marcelino Pão e Vinho

Uma das leituras mais marcantes da minha infância foi o livro Marcelino Pão e Vinho. Muita gente só conhece a história pelo filme, mas eu tive o privilégio de ler a obra completa que tem uma segunda parte que o filme não conta.
Fui criada numa família fervorosamente católica, extremamente tradicionalista, alienante... discordo da maioria das coisas que me ensinaram sobre Deus e religião, mas continuo católica... Vivo minha fé de maneira serena, sem fanatismo ou tradicionalismo... Respeito todas as religiões cristãs ou não... Odeio preconceito... Ninguém é diferente por escolha, mas por convicção, instinto ou intuição... Não sou dona da verdade e nem quero ser...
Dentro desse contexto, em certo natal minha mãe me presenteou com o livro Marcelino Pão e Vinho, que adquiriu pelo catálogo de uma distribuidora de livros.
Procurei uma versão eletrônica do texto na internet, mas encontrei apenas o filme. A única coisa que encontrei foi a imagem da capa do livro, igulazinha ao exemplar que tenho.

Aproveitando o feriado de carnaval, estive fazendo algumas "arrumações" em armários aqui de casa e encontrei esse pedacinho da minha infância... Foi maravilhoso relembrar... Mas o melhor ainda está por vir: A narrativa dessa história está tão moderna e bem construída que fiquei impressionada quando reli o primeiro trecho do livro... É uma pena que não tenha encontrado a versão eletrônica, pois seria bem mais prático postar aqui trechos do livro, mas mesmo com um pouco mais de trabalho vale a pena digitar um pedacinho do texto:

"Há coisa de cem anos, três filhos de São Francisco pediram ao prefeito de um povoado que os deixasse morar numa ruínas abandonadas, duas léguas dali, de propriedade do município. O prefeito, homem religioso, logo lhes concedeu licença, sem sequer consultar os vereadores. Partiram pois os frades, não sem antes o abençoarem. E, chegando às ruínas, começaram a planejar um abrigo para passar a noite.


O local tinha sido uma granja, onde os vizinhos do povoado tentaram opor resistência aos franceses, que invadiram a Espanha por volta de 1800, ou ao menos desviá-los do vilarejo. Entre os frades, um jovem decidido e engenhoso viu logo por onde começar: lá estavam, se bem que nem todas inteiras, as grandes pedras usadas na construção primitiva.Nas proximidades havia árvores para lenha, e pouco adiante corria um regato que não os deixaria morrer de sede. Mas como o dia já chegara ao fim, apesar de terem saído do povoado antes do amanhecer (vinha com eles um velho trôpego), o bom frade decidiu começar pelo princípio: estendo sobre alguns troncos uma velha manta, improvisou entre as pedras um vão coberto. Tendo acendido um fogo e instalado ali o ancião, mandou um dos frades buscar água, enquanto assava nas brasas as batatas que uma mulher lhes dera. Terminada as orações e a parca ceia, com o cair da noite, entregaram-se os três ao sono, para no dia seguinte, sempre sobre as ordens do mais diligente, começarem o trabalho."

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