sábado, 19 de março de 2011

Terra de Beckamel

Na maior mansão da terra de Beckamel morava o facolet Albano Dumpierre, membro supremo do Corpo Diplomático de Molcantos.  A construção, ampla como um castelo, mas sem se parecer com um, também servia de lar para os muitos facolets que trabalhavam ali como criados.

Por várias gerações o cargo de supremo diplomata do CDM (Corpo Diplomático de Molcantos) foi ocupado pelos membros da família Dumpierre.  Mas na época em que Hellen foi encontrada na Terra de Beckamel, parecia que essa tradição chegava ao fim. Albano Dumpierre não tinha filhos e era o último de sua estirpe.

As demais casas dos facolets – denominação do povo que habitava a Terra de Beckamel – distribuídas em vários vilarejos com estradinhas estreitas, tinham aparência comum, como qualquer casa que estamos habituados a ver. Aconchegantes, cobertas de palha quando feitas de madeira, ou com teto de telhas, quando feitas de tijolos, todas com pequenas e fumegantes chaminés.

Hospodar, a maior vila da Terra de Beckamel e também a mais próxima da Mansão da Família Dumpierre, foi onde Hellen apareceu pela primeira vez, ferida e desmemoriada.

É claro que a Terra de Beckamel nem sempre existiu. Todo o seu território fazia parte do Reino da Desolação.
Aqueles que tinham a audácia de ser facolets, nessa época, precisavam criar mecanismos de defesa o tempo todo, pois os fullons, dominadores do Reino da Desolação, os perseguiam cruelmente.

Quando Bruce Beckamel criou o CDM, queria apenas proteger os facolets que moravam próximos dele, da constante perseguição dos fullons. Jamais imaginou que a fama de sua corporação percorreria todo o Reino da Desolação provocando uma espécie de aglomeração de facolets na região onde ele morava.

Em pouco tempo todos os facolets do Reino da Desolação se mudaram para o sul, onde ficava o CDM. Criaram seus vilarejos e passaram a viver de forma próspera e feliz.

Muito bons com agricultura, pecuária e excelentes comerciantes, gradualmente foram demarcando províncias e ganhando cada vez mais espaço.  Descobriram que podiam ser muito fortes se ficassem unidos. Isso incomodou os fullons, pois seu poder tirânico sobre os facolets diminuíra bastante.



A guerra foi inevitável, mas os facolets venceram e conquistaram seu espaço. Nascia assim a Terra de Beckamel, nome escolhido em honra ao criador e primeiro supremo diplomata do CDM, Bruce Beckamel.

É claro que os fullons não se conformaram com a derrota. Com freqüência tentavam invadir a nova nação criada pelos facolets, mas  impedidos sempre pelo CDM, que cada vez se tornava mais eficaz em combatê-los.

Algumas criaturas ferozes habitavam a Terra de Beckamel, como o Capelobo, o Pé de Garrafa e o Teju Jaguar, mas animais comuns, como tamanduás, lagartos e araras, também viviam na região. Plantas exóticas como a cotundra, cuja semente do tamanho de uma noz tinha várias utilidades, cresciam em todo lugar.

Quando Facolets e Fullons ocupavam o mesmo território, se observados de forma superficial, pareciam um povo só, todos sendo capazes de fazer molcantos. Mas tinham em comum apenas isso.

O modo como usavam o seu dom determinava a principal diferença entre eles.  Facolets faziam molcantos para ajudar qualquer criatura viva que encontrassem, fullons faziam molcantos para seus próprios interesses e não hesitavam em prejudicar qualquer um que os atrapalhasse em seus propósitos.

Sim, molcanto é um dom. Apenas os que nascem nesse mundo paralelo ao nosso, o possuem. Tem muito a ver com um tipo de energia que fullons e facolets trazem em seu sangue, sendo canalizada através de medalhões especiais.

Alguns podem confundir isso com magia, mas molcanto não é magia. A magia é considerada, tanto na Terra de Beckamel quanto no Reino da Desolação, algo inferior, praticada apenas por quem não tem muito domínio na arte de usar molcanto. É claro que muitos fullons, querendo mais poder, apelam para magia, mas raramente um facolet o faz.

 Facolets e fullons sabem da nossa existência, mas nós nunca soubemos da deles, pelo menos até agora. Somos chamados por eles de frifilim, que quer dizer pouca coisa. É que para eles nos falta o mais importante: a capacidade de fazer molcantos.

Um comentário:

  1. Oi
    Agora sim.
    Na verdade, parte deste texto poderá ser aproveitado na trama em si.
    Sempre é importante que o leitor se posicione quanto a história, este trecho deixou tudo mais claro.
    bj

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